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terça-feira, 19 de dezembro de 2017

Um CANTO DE AMOR
English Version: The Song of Love

Este livro não é tradução ou simples paráfrase do Cântico dos Cânticos.
É apenas uma livre interpretação cristã do famoso poema bíblico.
Por essa razão, recomendo fazer toda a sua leitura, tomando
O Noivo como Jesus, A Noiva como sua amada Igreja,
Mães, Irmãos, Mulheres e Amigos como Israel.

CANTO I
A Noiva
Teus beijos me cobrem como o céu.
Teu amor é mais doce que o mel.
Teu nome é perfume e sabor.
Que donzela desdenha este amor?

Prende-me às cordas do teu laço.
És meu Rei, me leva aos teus palácios.
Felizes, nossos corações cantam.
Não te espantes que todas te amam.

Sou morena, em verdade, mas sou bela,
Linda como as cortinas das janelas.
Não desprezem minha cor acastanhada.
Foi o sol que me fez assim bronzeada.

Por meus irmãos trabalhei noutra vinha.
Não pude cultivar a minha própria.
Meu Amado se queimou na agonia.
Por amor deixou seu lar ali na glória.

Diga, meu amor, onde assiste o seu rebanho?
Onde o refrigera do sol do meio dia?
Não posso procurá-lo em prado estranho,
Em pastos secos de fantasia.

O Noivo
Ó, mais linda entre as mulheres!
Siga a trilha do meu aprisco.
Lá estão as cabanas dos meus pastores.
Lá você alimenta ovelhas e cabritos.

Seu rosto, meu amor, é tão lindo.
Você vale mais que tudo na vida.
Bela é tua face entre os brincos.
Belo é teu pescoço coberto de fitas.

Mulheres de Jerusalém
Brincos de ouro, enfeites de prata,
Não te fariam mais bela e mais amada.

A Noiva
Meu amado não dorme e descansa,
Lembrando da minha fragrância.
Meu amado é perfume de jasmin,
Entre as flores do meu jardim.

O Noivo
Como você é bela, querida!
Ah, como você é bonita!
Seus olhos como de pombas
Na face brilhando pra vida.

A Noiva
Como você é belo, querido!
Ah, como você é amado!
Nosso leito é o verde do prado,
Nosso teto de cedro polido.

Em Saron sou apenas uma rosa.
Por que meu Amado me olha?
Um lírio entre os lírios do vale.
Quem sou eu que de mim não se cale?

O Noivo
Como um lírio entre espinhos,
É minha amada entre as mulheres.
Dorme tranquila em teu ninho,
Em meio a combates rebeldes.

A Noiva
Como a macieira na flora,
É meu Amado entre tantos.
Amo sentar-me em sua copa,
Provar seus frutos de encanto.

Ele me trouxe ao salão de gala.
Levantou-me à bandeira do amor.
Restaurou minha força com passa.
Com maçãs mitigou meu calor.

Estou sofrendo de paixão.
Sua mão esquerda me ampara.
Com a direita me afaga sua mão.
O seu amor com nada se compara.

Mulheres de Jerusalém, cuidado.
Jurem que não acordarão nosso amor,
Até o dia em que ele mesmo acorde
Pra vida em botão em flor.

CANTO II
A Noiva
Ouço a voz do meu Amor.
Vem correndo entre os montes.
Corre entre vales no ardor
 De me saciar em suas fontes.

Meu Amor olha pela janela,
Querendo me ver à distância.
Mais que tudo ele anela
Falar-me em sua elegância.

O Noivo
Então, venha, meu Amor.
O inverno se foi, a chuva cessa.
No jardim chovem botões em flor.
O canto das pombas é uma festa.

Colhem-se os figos no campo.
O perfume da vinha é fragrante.
Venha depressa, meu, anjo,
Comigo em sorriso anelante.

Você é uma pomba escondida
Entre as frestas das rochas.
Deixe-me ver tua face luzidia,
Ouvir tua voz maviosa.

Prende pra mim as raposas,
Antes que comam as uvas,
E o nosso vinhedo em flor
Se esvaia do bom sabor.

A Noiva
Meu Amado é meu e eu do meu Amado.
Entre os lírios protege as ovelhas.
Volte depressa a meus braços,
Antes que o sol se esmoreça.

CANTO III
A Noiva
Uma noite, dormir não podia.
Ao meu lado não vi meu Amado.
Saí pelas ruas antes do dia,
Pra ver se podia encontrá-lo.

Pedi ajuda pros guardas.
Nenhum o havia avistado.
Foi quando o vi na penumbra,
Acordando de um sonho pesado.

Triste foi meu pesadelo e medonho,
Por medo de perder meu Amor.
Mas, feliz por saber que era sonho,
Voltei pros braços do meu Senhor.

Mulheres de Jerusalém.
Jurem que não acordam o Amor
Até que desabroche em flor.

Quem corre de terra deserta,
Tal qual coluna de fogo,
Incenso e mirras abertas
Banhando o rosto do povo?

Carregado por seus amados,
Sobre o trono lá vem o Rei.
Vencida foi sua batalha.
Justiça, amor, sua lei.

Mulheres de Jerusalém, é hora.
Venham ver o Senhor da História
Em coroa nupcial de glória.

CONTO IV
O Noivo
Como é bela a minha Amada!
Como brilham seus olhos atrás do véu!
Seus dentes, ovelha alvejada
Em chuva que vem do céu!

Seus lábios, fita escarlate.
Quão belos são ao falar!
Seus olhos brilham em contraste
Com o manto de tafetá.

Seu pescoço suave e redondo,
Colar de mil escudos te abraça.
Seus seios, feitos gêmeos pombos,
Nutridos de lírios dos prados.

Vou ficar na montanha de mirra.
Vou ficar na montanha de incenso.
Até cair o orvalho do dia
E se esconda o escuro imenso.

Quão bela é você, meu Amor!
Amável é sua formosura!
Desce comigo dos montes
Socorre os que estão nas planuras.

Seu olhar, doce coração de noiva,
O colar que você usa, roubaram meu coração.
Seu amor me deleita, doce coração de noiva.
Seu amor, seu perfume, sem comparação.

Gosto de mel tem seus lábios, Amada.
Sua língua é leite e mel para mim.
Seu vestido tem perfume do Líbano
Nas sombras do meu jardim.

Meu doce coração, Noiva querida,
É um jardim cercado de plantas vivas.
Bela fonte de árvores viçosas,
Onde crescem romãs saborosas.

Não te faltam o açafrão, o cálamo e a canela.
Toda espécie de fragrância em teu jardim.
Mirra e aloés crescem ali, as mais belas.
Fontes cristalinas te regam sem fim.

A Noiva
Vento norte. Vento Sul. Levanta.
Borrifa todo o ar em tua fragrância.
Até que entre em seu jardim meu amado
E coma do seu fruto sazonado.

Estou preparando os melhores aromas do sertão.
Venham ventos gelados ou de tórrido verão,
Frutos saborosos ele vai colher em mim,
Sua Igreja, sua Esposa, seu Jardim.

O Noivo
Já estou no meu jardim, meu doce ninho.
Já colho minha mirra e meu cravo.
Já provo do meu mel e do meu favo.
Já bebo do meu leite e do meu vinho.

Mulheres de Jerusalém
Comam e bebam, Noivos Amados.
Até que do amor se sintam fartos.

CANTO V
A Noiva,
 Dormia eu, meu coração vigiava.
Meu Amado, batendo à porta, chamava,

O noivo
Deixa-me entrar, minha santa.
Meu coração, minha doce pomba.
Minha cabeça está coberta do sereno.
Meus cabelos molhados do nevoeiro.

A Noiva
Já vesti minha camisola.
Por que me vestirei novamente?
Já lavei os meus pés na gamela.
Como posso sujá-los de repente?

Meu Amado bateu sua mão na porta.
Sua presença me deixou parada.
Com minhas mãos cobertas de mirra.
Estava pronta a permitir sua entrada.

Lançando a mão ao tranco,
Abri a porta ao Amado.
Nada vi e só ouvi meu pranto.
Meu Amor se havia apartado.

Procurei-o, procurei-o, sem prudência.
Chamei por ele, nenhuma resposta.
Tiraram meu manto com violência.
Os guardas me feriram as costas.

Prometam-me, mulheres de Jerusalém,
Se por ventura acharem meu Amado
Digam-lhe que estou apaixonada.

Mulheres de Jerusalém
Oh, mais bela entre as mulheres.
É seu Amor especial entre os moços?
Que há nele tão ditoso
Que te devemos fazer promessa?

A Noiva
Meu Amor é lindo e possante.
É um entre dez mil outros.
Sua face, suave e de bronze.
Seu cabelo, negro como o corvo.

Seus olhos calmos e belos
Como pombas no riacho,
Com leite banhados,
Profundos como o espaço.

Suas faces amáveis como um jardim,
Cheio de ervas e perfumes delicados.
Seus lábios, como lírios com mirra molhados.
Seus braços envoltos com anéis de marfim.

Seu corpo é como marfim incrustado de safira.
Suas pernas, colunas de alabastro forradas de ouro.
É majestoso como os montes do Líbano,
Com seus cedros exalando a mirra.

Sua boca traz o doce beijo.
Tudo nele encanto tem.
É assim que o comparo e vejo,
Mulheres de Jerusalém.

Não há palavras pra descrever o amor.
Ninguém pode definir seu amor por alguém.
Basta dizer, Este é o Meu Amor, Meu Pastor.

E eu, sua Igreja, sua Noiva, e digo, Vem.

Mulheres de Jerusalém
Oh, mais bela entre as rainhas.
Por onde o seu Amado caminha?
Qual estrada seu amor percorre?
Queremos conhecer seu norte?

A Noiva
Meu Amor foi ao jardim entre os rios,
Onde crescem arbustos perfumados.
Nutre o rebanho e colhe os lírios.
Meu amado é meu e eu do meu amado.

CANTO VI
O Noivo
Meu Amor, você é linda como Jerusalém.
Bela como as mais belas de além.
Desvia teus olhos de mim para o lado.
Eles estão me tornando angustiado.

Seus cabelos dançam como um rebanho de cabras,
Descendo as encostas do Gileade.
Seus dentes brancos como um rebanho de ovelhas
Que acabam de se banhar no riacho.

Suas faces reluzem atrás do véu.
Amo somente a ela, afável como a pomba.
Filha única de sua mãe, aclamam
Todas as mulheres debaixo do céu.

Quem é esta, cujo olhar é como o dia que nasce,
Clara como o sol, fascinante como a lua!?
Desci pra ver as plantas mais belas da planura,
Mas estou apaixonado por seu amor e sua face.

É manhã que aparece após as trevas!
Lua que embeleza vales e serras!
É sol que aquece a escura e fria Terra!
Exército que canta após a guerra!

Como manhã rompendo em meio às trevas,
Como a lua em noite de céu escuro,
Como o sol em meio a nevoeiro turvo,
Assim é minha Amada nas guerras.

 Mulheres de Jerusalém
 Dança. Dança. sulamita.
Tua dança nos atrai a vista.

A Noiva
Por que querem me ver na pista?
Sou apenas uma sulamita.

O Noivo
Como você é bonita, amada!
Lindos os seus pés nas sandálias.
Sua cintura é mão de obra de arte.
Seu umbigo, taça que não se parte.

Seus seios são como gêmeos de cabras.
Seu pescoço, como torre de marfim.
Seus olhos, brilhantes como espelho d´água.
Seu nariz, flor que exala perfume sem fim.

Sua cabeça é Monte Carmelo, bem alto.
Seus cabelos, como púrpura, sedosos,
Prendem os olhares do rei em assalto,
Por trás de seus olhos brilhantes, formosos.

Como você é faceira,
Completo é o seu amor.
Graciosa como a palmeira,
Seus seios cachos em flor.

Vou subir na palmeira e colher o seu fruto.
Seus seios são cachos de uva e bom suco.
Seu respiro tem o cheiro das flores.
Sua boca traz o melhor dos licores.

A Noiva
Que o licor seja provado por meu Rei.
Corra em direção dos seus lábios e dentes.
Sou escrava do amor, e contente,
Meu desejo é seu e o amarei.

Descansa nele, ó, minh´alma!
Já livre da velha serpente!
No Amado, habitas em calma!
Chama os amigos pras bodas, urgente!

Venha, querido, até as cidades e vilas.
Vamos acordar cedo e ver as trilhas,
Se as romãs já se abriram em flor.
Lá te darei meu carinho e amor.

Lá você pode sentir o perfume das flores.
As frutas mais doces estão bem à porta.
Guardei pra você os sabores melhores.
Novos e velhos, que mais nos importa?

Quem me dera você fosse parente,
Nutridos do mesmo seio e sabor.
Eu te beijaria nas ruas, contente.
Em casa, você me ensinando o amor.

Eu te daria o suco da uva
E o saboroso licor da romã.
Você me daria abraços sem luva
E no rosto me alisaria as maças.

Oh, mulheres da cidade,
Não acordem o meu amor,
Até que, por sua vontade,
Se abra em botão em flor.

Fala do amor a cada hora.
Diz que amor igual não haverá.
Prega o amor, mas não implora.
É livre o coração pra amar.

CANTO VII
Mulheres de Jerusalém
Quem é esta que vem do deserto escaldado,
Lado a lado, de braço com seu amado?

A Noiva
Na casa de tua mãe conheci minha sorte.
Aperta meu coração, me abraça a cintura.
O amor, oh, o amor é forte como a morte.
É rude a paixão como a sepultura.

Nosso amor acende em chamas.
Queima como fogo abrasador.
As águas não apagam suas línguas.
Nem os rios afogam seu ardor.

 Irmãos da Noiva
Temos uma irmã caçula e pequena.
Ainda não está madura e formada.
Que bem faremos à nossa morena,
Se um cavalheiro pedir nossa Amada?

A Noiva
Não se preocupem comigo, amados.
Já sou muro de prata e portão de marfim.
Já encontrei o meu Príncipe esperado.
Com ele terei alegria sem fim.

O Noivo
Tenho uma ditosa e linda Vinha,
Alugada a pessoas amadas.
Cada uma, mil moedas de prata.
É você, Vinha Bela, Vinha minha.

Da tua vinha, quero escutar tua voz.
Meus amigos também querem te ouvir, Amor.

A Noiva
Vem pra mim, Amado, suave como o albatroz.
Como cordeiro ligeiro nos montes perfume em flor.

Quão bela és tu, Noiva amada!
Quão lindo é o teu amor!
Veste teu véu e grinalda
Pra volta do teu Senhor!

Volta logo, oh Senhor!
Vem receber tua Amada!
Faz brilhar tua alvorada
Do eterno canto de amor!

Copyright de Eimaldo Vieira
Niterói, 15 de Dezembro, 2017

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Assim, você fará o Noivo cada vez mais glorioso
e sua Noiva cada vez mais bela.

Obras sugeridas: Cântico dos Cânticos e Romeu e Julieta.